sexta-feira, março 23, 2007
Santos Dumont
Março 2004
Um biógrafo americano defende a tese de que Santos Dumont foi mesmo o pai da aviação
Os americanos festejaram em 2003 o centenário da aviação, para eles um feito dos irmãos Orville e Wilbur Wright. Asas da Loucura (tradução de Marisa Motta; Objetiva; 326 páginas; 41,90 reais) mostra que eles deram a festa errada. O americano Paul Hoffman, ex-editor da Enciclopédia Britânica e autor dessa minuciosa biografia do brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932), trata da antiga disputa sobre quem teria sido o inventor do avião e a equaciona não em termos de datas, mas de propósitos. Segundo Hoffman, Dumont superou de longe os irmãos Wright pela grandeza de sua utopia – pois o sonho de voar, desde Ícaro, sempre foi propulsionado pelo desejo de liberdade. Em 1903, os então anônimos Wright alegaram ter voado, mas estavam de olho sobretudo na patente da invenção e cercaram o episódio de tanto segredo que ele só foi testemunhado por meia dúzia de curiosos. Seu vôo passou tão em brancas nuvens que o jornal local deu uma nota com o seguinte título: "Garotos de Dayton imitam o grande Santos Dumont". Na primeira década do século XX, Dumont era uma das figuras mais famosas e admiradas em Paris, planando pela cidade com seus dirigíveis e suas aeronaves, às vezes aterrissando acidentalmente numa árvore do jardim dos Rothschild, que lhe enviavam uma cesta de piquenique para ser degustada entre as folhagens. Em 1909 ele pilotou o Demoiselle, "libélula" muito copiada depois na Europa e nos Estados Unidos. Em 1906 ele pôs no ar o 14 Bis, no primeiro vôo de aeroplano na Europa. E já em 1901 milhares de parisienses o tinham visto circunavegar a Torre Eiffel com um dirigível. Gustave Eiffel, aliás, os Rothschild e a princesa Isabel eram freqüentadores de seus jantares literalmente aéreos no apartamento de Champs-Elysées, servidos em cadeiras suspensas por cabos ao teto. Herdeiro de uma fortuna do café, ele era um dândi perfeito, embora tímido, com seus colarinhos de gola alta, chapéu panamá e um revolucionário relógio de pulso, que o joalheiro Cartier criou para que ele não tivesse de largar as mãos do leme para ver as horas. Suas proezas lhe valeram congratulações dos ases da ficção científica da época, os escritores Júlio Verne e H.G. Wells. Mas o que a lenda evita, e esse livro recupera, é a profunda depressão que se abateu sobre Dumont ao ver o uso mortífero de sua invenção durante a I Guerra Mundial, o que o levou a várias internações em clínicas de repouso e finalmente ao suicídio, de volta ao Brasil. O trabalho de pesquisa de Hoffman é minucioso, embora ele não tenha podido consultar os croquis e algumas cartas queimadas pelo próprio Dumont, horrorizado quando, no início da guerra, vizinhos o acusaram de espionagem e a polícia francesa invadiu sua casa. Romântico, Dumont acreditava que sua invenção facilitaria a convivência entre os homens e as nações. Enquanto isso, os irmãos Wright fechavam contratos de venda da patente com o Ministério da Guerra americano. Por: Marilia Pacheco Fiorillo - FONTE: Revista Veja
Suspeita de Traição
"Ele estava lá no dia 3 de agosto de 1914, divertindo-se com seu telescópio, olhando as estrelas à noite e o mar du-rante o dia, quando a Alemanha declarou guerra à França. Horrorizado com a agressão ao seu país adotivo, decidiu colocar-se a serviço do exército francês. Mas ele não teve essa chance – os militares o alcançaram primeiro. Seus vizinhos pensavam que o tímido estrangeiro, que observava o mar com seu telescópio de fabricação alemã, era um espião do cáiser. Quando a polícia militar revistou sua casa, ele ficou mortificado. Ele fora o homem mais famoso e reverenciado da França e, agora, suspeitavam de ser um traidor. Embora a polícia tenha se desculpado pela busca inútil, no momento em que ela partiu ele jogou todos os seus documentos aeronáuticos no fogo. Queimou cada desenho, cada projeto, cada carta de recomendação." Trecho de Asas da Loucura
Um biógrafo americano defende a tese de que Santos Dumont foi mesmo o pai da aviação
Os americanos festejaram em 2003 o centenário da aviação, para eles um feito dos irmãos Orville e Wilbur Wright. Asas da Loucura (tradução de Marisa Motta; Objetiva; 326 páginas; 41,90 reais) mostra que eles deram a festa errada. O americano Paul Hoffman, ex-editor da Enciclopédia Britânica e autor dessa minuciosa biografia do brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932), trata da antiga disputa sobre quem teria sido o inventor do avião e a equaciona não em termos de datas, mas de propósitos. Segundo Hoffman, Dumont superou de longe os irmãos Wright pela grandeza de sua utopia – pois o sonho de voar, desde Ícaro, sempre foi propulsionado pelo desejo de liberdade. Em 1903, os então anônimos Wright alegaram ter voado, mas estavam de olho sobretudo na patente da invenção e cercaram o episódio de tanto segredo que ele só foi testemunhado por meia dúzia de curiosos. Seu vôo passou tão em brancas nuvens que o jornal local deu uma nota com o seguinte título: "Garotos de Dayton imitam o grande Santos Dumont". Na primeira década do século XX, Dumont era uma das figuras mais famosas e admiradas em Paris, planando pela cidade com seus dirigíveis e suas aeronaves, às vezes aterrissando acidentalmente numa árvore do jardim dos Rothschild, que lhe enviavam uma cesta de piquenique para ser degustada entre as folhagens. Em 1909 ele pilotou o Demoiselle, "libélula" muito copiada depois na Europa e nos Estados Unidos. Em 1906 ele pôs no ar o 14 Bis, no primeiro vôo de aeroplano na Europa. E já em 1901 milhares de parisienses o tinham visto circunavegar a Torre Eiffel com um dirigível. Gustave Eiffel, aliás, os Rothschild e a princesa Isabel eram freqüentadores de seus jantares literalmente aéreos no apartamento de Champs-Elysées, servidos em cadeiras suspensas por cabos ao teto. Herdeiro de uma fortuna do café, ele era um dândi perfeito, embora tímido, com seus colarinhos de gola alta, chapéu panamá e um revolucionário relógio de pulso, que o joalheiro Cartier criou para que ele não tivesse de largar as mãos do leme para ver as horas. Suas proezas lhe valeram congratulações dos ases da ficção científica da época, os escritores Júlio Verne e H.G. Wells. Mas o que a lenda evita, e esse livro recupera, é a profunda depressão que se abateu sobre Dumont ao ver o uso mortífero de sua invenção durante a I Guerra Mundial, o que o levou a várias internações em clínicas de repouso e finalmente ao suicídio, de volta ao Brasil. O trabalho de pesquisa de Hoffman é minucioso, embora ele não tenha podido consultar os croquis e algumas cartas queimadas pelo próprio Dumont, horrorizado quando, no início da guerra, vizinhos o acusaram de espionagem e a polícia francesa invadiu sua casa. Romântico, Dumont acreditava que sua invenção facilitaria a convivência entre os homens e as nações. Enquanto isso, os irmãos Wright fechavam contratos de venda da patente com o Ministério da Guerra americano. Por: Marilia Pacheco Fiorillo - FONTE: Revista Veja
Suspeita de Traição
"Ele estava lá no dia 3 de agosto de 1914, divertindo-se com seu telescópio, olhando as estrelas à noite e o mar du-rante o dia, quando a Alemanha declarou guerra à França. Horrorizado com a agressão ao seu país adotivo, decidiu colocar-se a serviço do exército francês. Mas ele não teve essa chance – os militares o alcançaram primeiro. Seus vizinhos pensavam que o tímido estrangeiro, que observava o mar com seu telescópio de fabricação alemã, era um espião do cáiser. Quando a polícia militar revistou sua casa, ele ficou mortificado. Ele fora o homem mais famoso e reverenciado da França e, agora, suspeitavam de ser um traidor. Embora a polícia tenha se desculpado pela busca inútil, no momento em que ela partiu ele jogou todos os seus documentos aeronáuticos no fogo. Queimou cada desenho, cada projeto, cada carta de recomendação." Trecho de Asas da Loucura
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